
O livro do Apocalipse está repleto de simbolismos e mistérios, e um dos mais debatidos é a identidade das duas testemunhas mencionadas em Apocalipse 11. Existem diversas interpretações sobre quem elas representam, e neste estudo, iremos explorar as mais aceitas, sempre embasando nossa análise na própria Escritura.
As Interpretações Mais Comuns
Alguns cristãos defendem que as duas testemunhas são Moisés e Elias, baseando-se no fato de que Elias foi levado ao céu sem ver a morte (2 Reis 2:11) e Moisés apareceu junto com Elias no Monte da Transfiguração (Mateus 17:3). Outros sugerem que seriam Josué e Zorobabel, pois Zacarias 4 faz referência a “duas oliveiras” que representam esses dois personagens.
Há ainda aqueles que acreditam que as duas testemunhas representam a Igreja de Deus, chamada a testemunhar e a proclamar o Evangelho ao longo dos séculos. Mas o que a Bíblia realmente nos ensina sobre isso?
O Contexto de Apocalipse 11
Apocalipse 11 pode ser dividido em duas partes principais:
- A medição do templo (versículos 1-2);
- A descrição das duas testemunhas (versículos 3-14).
Para entendermos corretamente a passagem, é essencial conectá-la com o contexto imediato, que inclui Apocalipse 10. Neste capítulo, João recebe um livrinho para comer, que é doce na boca e amargo no estômago, simbolizando uma experiência profética que requer nova pregação (Apocalipse 10:8-11). As duas testemunhas surgem nesse cenário escatológico, destacando-se na missão de propagar a Palavra de Deus.

As Características das Duas Testemunhas
Apocalipse 11:3-4 diz:
“Darei autoridade às minhas duas testemunhas, e elas profetizarão durante mil duzentos e sessenta dias, vestidas de pano de saco. Estas são as duas oliveiras e os dois candeeiros que estão diante do Senhor da terra.”
Essa referência às “duas oliveiras e os dois candeeiros” é uma clara alusão a Zacarias 4, onde Josué e Zorobabel foram chamados para restaurar Israel. No entanto, isso não significa que eles são literalmente as testemunhas do Apocalipse. A menção sugere que as duas testemunhas têm um papel semelhante ao desses líderes do Antigo Testamento: testemunhar e restaurar a verdade de Deus.
Por que Duas Testemunhas?
A lei mosaica exigia pelo menos duas testemunhas para validar um testemunho (Deuteronômio 19:15). Assim, o número dois simboliza a credibilidade e autenticidade da mensagem das testemunhas.
Moisés e Elias?
Os versículos 5 e 6 associam as testemunhas a milagres semelhantes aos realizados por Moisés e Elias:
- “Se alguém lhes quiser fazer mal, fogo sairá da sua boca e devorará seus inimigos.” (Lembra Elias em 2 Reis 1:10)
- “Têm poder para fechar o céu para que não chova.” (Elias em 1 Reis 17:1)
- “Têm poder sobre as águas para convertê-las em sangue e para ferir a terra com pragas.” (Moisés no Êxodo)
Apesar dessas semelhanças, o texto não sugere que Moisés e Elias retornarão fisicamente, mas sim que as testemunhas terão um ministério com as mesmas características.

A Perseguição e a Morte das Testemunhas
As testemunhas profetizam por 1260 dias, um período de tempo que, seguindo o princípio profético “um dia por um ano” (Números 14:34; Ezequiel 4:6), corresponde a 1260 anos. Esse tempo se encaixa no período medieval entre 538 e 1798, quando o poder religioso dominou a Europa e suprimiu o acesso às Escrituras.
O texto também diz que as testemunhas serão atacadas por “a besta que sobe do abismo” (Apocalipse 11:7), o que alguns estudiosos identificam com a Revolução Francesa. Durante esse período, a Bíblia foi rejeitada e destruída publicamente em Paris, simbolizando a “morte” das testemunhas.
Quem São as Duas Testemunhas, Afinal?
Duas interpretações principais emergem:
- O Antigo e o Novo Testamento:
- A Bíblia é o testemunho de Deus ao mundo, e foi perseguida, mas não destruída.
- O Povo de Deus:
- Os fiéis que pregam o Evangelho, enfrentam perseguição, mas seguem firmes.
Essas interpretações não se excluem; na verdade, se complementam. O povo de Deus testemunha através das Escrituras, e ambas sofrem oposição ao longo da história.

A Ressurreição das Testemunhas
Apocalipse 11:11-12 descreve a ressurreição das testemunhas, simbolizando a restauração da Palavra de Deus e da pregação do Evangelho após a Revolução Francesa, com a disseminação das Escrituras no mundo todo.
Conclusão
Embora não possamos afirmar categoricamente quem são as duas testemunhas, as interpretações mais prováveis apontam para a Palavra de Deus e para o Seu povo. O importante é reconhecer que Deus sempre levanta testemunhas para proclamar o Seu Evangelho, mesmo em tempos de perseguição.
Que possamos ser fiéis ao chamado de Deus, como testemunhas vivas de Sua verdade!